Em Portugal existem cerca de 40.000 doentes diagnosticados com Artrite Reumatóide, uma doença inflamatória crónica que pode limitar os gestos diários destes doentes.
O simples acto de abrir uma porta, agarrar numa caneta ou calçar uns sapatos pode ser um suplício para alguns destes indivíduos, que são lembrados no dia 5 de Abril, data em que se comemora o Dia Nacional dos Doentes com Artrite Reumatóide.
É uma doença inflamatória crónica, de causa ainda desconhecida, envolvendo particularmente as articulações;
Atinge mais o sexo feminino do que o masculino.
Inicia-se, frequentemente, entre os 30 e os 40 anos, mas pode ocorrer na terceira idade;
Não respeita raças nem climas;
Afecta a capacidade produtiva do indivíduo, a sua vida familiar e social;
A doença pode evoluir de três formas, se não for tratada:
- Entrar em remissão - os doentes deixam de ter sintomas;
- A grande maioria dos doentes mantém a sintomatologia ao longo do tempo;
- Uma pequena parte evolui para formas muito graves, provocando grande incapacidade. Quando a doença evolui sem tratamento ou não responde aos medicamentos, ocorre destruição de cartilagens, ossos, tendões e ligamentos circundantes, conduzindo à destruição das articulações, com a consequente incapacidade permanente;
Caracteriza.se por provocar dor, principalmente nas articulações das mãos, punhos, cotovelos, joelhos e pés, mas pode afectar qualquer articulação;
Pode afectar outros orgãos: olhos, coração, pulmões, rins, sistema nervoso periférico;
A anemia é também um sintoma muito frequente;
Pode associar-se a outra doença, a síndroma de Sjörgen, que afecta as glândulas salivares e lacrimais, originando uma secura nas mucosas;
Tem tratamento e deve ser acompanhada por um especialista com experiência no diagnóstico e tratamento, pois não tratada ou descurada pode "atirar" o doente para uma cadeira de rodas;
Pode manifestar-se por um ou mais episódios e a sintomatologia desaparecer; mas, nalguns doentes, mantém-se activa durante toda a vida;
O prognóstico é tanto melhor quanto mais precoce for o diagnóstico e o início do tratamento correcto;
A artrite reumatóide resulta numa reduzida qualidade de vida e numa redução significativa da esperança de vida, estimada entre 3 a 10 anos.
«A inflamação afecta a cartilagem, corrói o osso e destrói a articulação, daí que, quando não se consegue parar a inflamação, possam surgir deformações» refere o Dr. António Vilar, presidente da Direcção do Instituto Português de Reumatologia. As cartilagens e o próprio osso acabam por ser corroídos pela inflamação.
Os especialistas sabem como é que se desenvolve a inflamação, como é que a doença progride e que graus de incapacidade pode provocar, mas continuam sem saber qual é a sua causa.
Os tratamentos mais clássicos, onde se incluem os sais de ouro, o metotrexato, a salazopirina e os antipalúdicos têm uma taxa de indução de remissão que anda na casa dos 40 a 60%.
«O que acontece é que muitas vezes esta remissão não se mantém para o resto da vida. O medicamento por vezes deixa de fazer efeito e a doença não é totalmente travada, aí necessitamos de usar novos medicamentos», constata este reumatologista.
Isto faz com que «as terapêuticas visem modificar a forma como a doença se perpétua, mas como não conhecemos a causa, não podemos eliminá-la», comenta este especialista.
Existem múltiplos factores associados às pessoas atingidas por artrite reumatóide. Os genes parecem determinar, à partida, quais são os indivíduos cujo sistema imunológico é mais susceptível de ser atacado pela doença. Factores hormonais, infecciosos ou ambienciais poderão contribuir para que uma pessoa com uma certa susceptibilidade, genéticamente determinada, possa vir a desenvolver este problema.
Estão a decorrer estudos no sentido de encontrar a causa deste problema, enquanto não há resultados vão sendo testados fármacos que permitam melhorar a qualidade de vida destes pacientes.
Este especialista vê o tratamento da artrite como uma orquestra. «O maestro é o reumatologista, depois há um conjunto de intérpretes, que vão desde os enfermeiros, passando pelos fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, psicólogos, por vezes pelo psiquiatra, pelo cirurgião ortopédico, oftalmologista, pelo internista e pelo médico de família».
Nesta "orquestra" existem músicos que fazem outro tipo de acompanhamento, são as estruturas de apoio social, como as assistentes sociais e os terapeutas ocupacionais . «Pois estes indivíduos podem necessitar de cuidados especiais, quando têm crises», defende António Vilar, e avança com um exemplo, «sabe-se que a artrite provoca uma grande rigidez nas articulações durante a manhã, por isso se o doente conseguir um horário flexível evitará começar a trabalhar muito cedo durante as crises».
É para dar este tipo de apoio e lutar por alterações que melhorem a qualidade de vida destes doentes que foi criada uma associação, a A.N.D.A.R. - Associação Nacional de Doentes Com Artrite Reumatóide - da qual António Vilar foi fundador.
É uma associação recente que se formou com os seguintes objectivos:
Apoio médico social ao doente com Artrite Reumatóide
Realização de Programas e Acções de Informação
Promoção de Edições sobre a Doença
Organização de encontros de doentes
Colaboração com serviços nacionais ou estrangeiros com fins idênticos
Destina-se a doentes, seus familiares e a todos os que se identifiquem com os objectivos referidos
Ideias erradas sobre esta doença
«Nós reumatologistas gostaríamos que os doentes viessem ao médico ainda no início da doença», defende António Vilar, o que antes não acontecia porque havia uma série conceitos errados sobre esta patologia.
Hoje os doentes estão mais informados e recorrem mais aos especialistas. Durante muito tempo existiram algumas noções incorrectas sobre a artrite reumatóide:
Pensava-se que o «reumático» era uma doença, mas são mais de 100 patologias diferentes;
Pensava-se que seria uma doença de velhos, não é, no Instituto Português de Reumatologia existe mesmo uma consulta só para crianças;
Pensava-se que era causada pela humidade, mas a causa ainda não é conhecida;
Pensava-se que as doenças reumáticas não tinham remédio, nada mais errado, algumas curam-se outras controlam-se e, sobretudo, tratam-se.
O primeiro cirurgião que fez o transplante cardíaco o Dr. Barnard, interrompeu a sua brilhante carreira precocemente devido à artrite reumatóide, que lhe deformou as mãos.
Temos homens com artrite reumatóide que deixaram obras notáveis como foi o caso do pintor impressionista Renoir. As suas limitações decorrentes da artrite eram tão grandes que ele amarrava o pincel às mãos para conseguir pintar.
Em 1950, quando o prémio Nobel da Medicina foi atribuído ao Dr. Philip Hench pela descoberta da cortisona, pensou-se que tinha sido encontrada a cura para a artrite reumatóide. Bastaram dois anos para que os especialistas se apercebessem de que este medicamento não curava a doença, mas era sim um potente anti-inflamatório, cuja utilização desmedida e sem regras tinha efeitos indesejáveis bem conhecidos hoje, sobre o osso, a tensão arterial, a diabetes e o aumento de peso.
5 de Abril - Dia Nacional do Doente com Artrite Reumatóide
Tendo em conta a importância que esta doença assume no nosso país, o ministério da Saúde instituiu um Dia Nacional dedicado aos doentes que sofrem de artrite reumatóide, reza o texto:
"Considerando o elevado número de pessoas, cerca de 40 000, que, em Portugal, sofrem de artrite reumatóide, doença que afecta profunda e gravemente todos os que dela padecem, determinando, por vezes, a incapacidade permanente.
Considerando a necessidade de sensibilizar os cidadãos portugueses para os problemas de ordem pessoal, familiar e profissional que, diariamente, afligem quantos sofrem deste reumatismo crónico.
Considerando, ainda, a importância de que se revestem a divulgação e difusão dos conhecimentos e das medidas de tratamento e prevenção no combate àquela doença, instituo o dia 5 de Abril como Dia Nacional do Doente com Artrite Reumatóide".
Maria de Belém Roseira
Fonte:
http://www.andar-reuma.pt/
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