Esta planta está se tornando uma nova (e forte) aliada na guerra contra a balança. Trata-se da Garcinia cambogia - uma planta originária das florestas do Camboja, sul da África e Polinésia, cujo fruto apresenta um componente capaz de reduzir a fome e a vontade de comer doces.
É o ácido hidroxicítrico (AHC), o principal ácido encontrado na pele do fruto.
A Garcinia cambogia é uma planta muito comum em países como Singapura, Vietname e Tailândia. Pertencente à família das Gutiferáceas (Clusiáceas), ela é parente do mangostão (Garcinia mangostana L.) - outra fruta do mesmo género, que se encontre mais facilmente (foto em baixo)
A família Clusiáceas engloba 47 gêneros reunindo cerca de 1.000 espécies distribuídas em várias regiões tropicais e subtropicais no mundo. São da mesma família o bacuri (Platonia insignis Mart.), o abricot (Mammea americana L.) e o falso-mangostão (Garcinia cochinchinensis C.). Este último, como o próprio nome indica, é geralmente confundido com o mangostão e é comumente encontrado no Brasil, especialmente em pomares domésticos.
Cultivada em países do extremo oriente e na Índia, a Garcinia cambogia é uma pequena árvore sempre-verde, de copa circular e ramos horizontais. As folhas são simples, opostas, ovaladas, brilhantes e de coloração verde-escura. As flores são carnosas, podendo ser masculinas, femininas ou hermafroditas na mesma planta. Os frutos são amarelos e avermelhados quando maduros, têm o tamanho aproximado de uma laranja e possuem de 6 a 8 gomos, com sementes em arilo.
Na Índia, onde é utilizada há centenas de anos, ela conhecida como tamarindo de Malabar. A Garcinia cambogia é muito aplicada na Medicina Ayurvédica e, por não apresentar nenhuma toxicidade, é amplamente usada na culinária tradicional, especialmente na conservação de alimentos, além de entrar na composição do caril ou curry, uma mistura de especiarias (que varia conforme a região em que é produzida), indicada para condimentar pratos típicos. Na medicina popular, é usada para combater o escorbuto, como digestiva e estimulante da produção da bìlis.
Estudos indicam que o componente presente na Garcinia cambogia, responsável pela redução da gorduras e pelas propriedades saciantes, é o ácido hidroxicitrato – AHC - (semelhante ao ácido encontrado no limão e na laranja), principal ácido encontrado na pele do fruto.
O AHC apresenta três mecanismos de acção:
- * Como agente bloqueador de gorduras – o excesso de carboidratos ingeridos são transformados e armazenados como gordura. Neste processo é necessária a participação de uma enzima chamada ATP-citrato liase. O AHC liga-se a esta enzima bloqueando-a e, por conseqüência, inibindo o armazenamento de gorduras;
- * Direcciona as calorias para outro destino. Ao bloquear a ATP-citrato liase, o AHC acaba por transferir as calorias para a formação do glicogênio (um tipo de açúcar armazenado nos músculos e no fígado). Com o fígado armazenando mais açúcar na forma de glicogênio, ocorre a inibição da vontade de comer doces;
- * Como redutor do apetite – o AHC controla o apetite ao promover uma maior síntese de glicogênio, ou seja, quando as reservas de glicogênio estão altas, os receptores do açúcar no fígado são estimulados e enviam um sinal de saciedade ao cérebro (tudo isso sem estimular o sistema nervoso central). De outro lado, o AHC também tem a capacidade de estimular a liberação da serotonina, um neurotransmissor diretamente envolvido no controle do apetite.
Todas essas propriedades têm feito da Garcinia cambogia um óptimo recurso natural para alterar a fisiologia do organismo no sentido de promover a perda de peso. É claro que a planta não é milagrosa. Não basta usar a garcínia e passar a comer qualquer alimento em qualquer quantidade e achar que não vai ganhar peso. É necessário aliar o seu uso a uma actividade física para estimular a queima de gordura, além de adoptar uma dieta saudável, com poucas gorduras e calorias.
Esta planta asiática ainda não é cultivada comercialmente no Brasil, por isso, a Garcinia cambogia só pode ser encontrada na forma de extrato seco para o preparo do chá e em cápsulas. Mesmo não apresentando nenhum princípio tóxico, por inexistirem estudos suficientes, o uso não é recomendado para crianças, mulheres grávidas ou que estejam amamentando.
Ficha da Planta
Garcinia cambogia
Sin.: G. gummi (Linn)
Nomes populares: tamarindo do malabar, gamboge tree ou hattan yellow (inglês), Vrkshaamla, charaka ou kokam (Ayurvedica)
Família: Gutiferáceas (Clusiáceas)
Origem: florestas do Camboja, sul da África e Polinésia
Solo para cultivo: Os solos mais indicados para o cultivo são os argilo-arenosos, profundos, ricos em matérias orgânicas e bem drenados
Clima: quente-úmido com chuvas bem distribuídas no ano
Partes mais utilizadas: casca seca e polpa do fruto
Constituintes: Ácido hidroxicítrico (cerca de 30%), lactonas hidroxicítricas, antocianósidos, compostos fenólicos (biflavonóides, xantonas, benzofenonas), sais minerais (na casca) e pectinas predominantemente na polpa
As qualidades da fruta:
- * Diurética, facilita a eliminação de líquido pela urina;
- * Rica em fibras, auxilia no funcionamento o intestino;
- * Inibe a acção da enzima liase, responsável pela formação da gordura pelo fígado;
- * Ajuda a absorver a gordura no sangue, melhorando os níveis de colesterol;
- * Inibe o apetite, pela redução da hormona orexina,
- * A planta actua no centro da fome, diminuindo o apetite, sem agir no sistema nervoso central
- * A Garcinia cambogia acelera a queima de calorias (processo chamado de termogênese) e previne o acúmulo de gordura no sangue na forma de triglicéridos;
Em tempo: O mangostão (Garcinia mangostana L.), que pertence ao mesmo género e família da Garcinia cambogia, também apresenta propriedades medicinais. O seu extracto é usado como auxiliar anti-inflamatório no tratamento das articulações, tendinites, reumatismo e artrose. Pesquisas recentes indicam o uso do extracto da polpa no tratamento da asma e alergias respiratórias.
Referências:
Heymsfield SB, Allison DB, Vasseli Jr et al – Garcinia cambogia (hydroxycitric acid) as a potential antiobesity agent: a randomized controlles trial. JAMA 18:1956-1600,1998.Muzzarelli RAA – Human enzymatic activies related to the therapeutic administration of chitrin
* Rose Aielo Blanco é jornalista, escritora e editora do site: