Sunday, 19 October 2008

Doença de Crohn

por Francisco Varatojo

A doença de Crohn é uma doença do sistema digestivo ainda relativamente desconhecida pela maioria da população portuguesa mas cuja incidência começa a aumentar gradualmente, particularmente nos centros urbanos.

Trata-se de uma doença crónica que pode provocar inflamação em qualquer parte do sistema digestivo mas que afecta maioritariamente a parte final do intestino delgado e o cólon.

Apesar dos sintomas serem semelhantes aos da colite ulcerosa, a doença de Crohn afecta todas as camadas da parede intestinal, enquanto que a colite ulcerosa afecta apenas a camada mais interna.

Os sintomas mais comuns deste problema são diarreia crónica, perda de peso e falta de apetite; outros sintomas podem incluir inflamações dos olhos, dores articulares, problemas de pele, fissuras e fístulas.

Uma vez que a absorção intestinal fica seriamente afectada, a doença de Crohn pode ser extraordinariamente debilitante e provocar deficiências nutricionais graves; em casos mais sérios pode conduzir à invalidez ou à morte.

Crohn afecta mais as mulheres, particularmente na faixa etária entre os 20 e os 40 anos (apesar de poder afectar pessoas de qualquer idade) e é um problema relativamente raro em pessoas de origem asiática ou africana.

De um ponto de vista médico não se conhecem as causas (existem várias teorias sobre a sua origem, sendo a mais comum actualmente de que se trata de uma doença auto-imune) e é considerada incurável. Os tratamentos médicos utilizados neste problema incluem principalmente cirurgia e/ou medicamentos anti-inflamatórios, conforme a gravidade de cada caso.

Neste artigo, escreverei sobre a abordagem macrobiótica à doença de Crohn, incluindo recomendações alimentares para a mesma. Gostaria de salientar que, na minha experiência pessoal com os pacientes de Crohn, se notam melhoras extraordinárias quando os pacientes começam a fazer uma alimentação macrobiótica e já testemunhei algumas pessoas recuperarem totalmente do problema, deixando de apresentar quaisquer sintomas.

Segundo os princípios macrobióticos a causa principal da Doença de Crohn, assim como de outras doenças inflamatórias do cólon, como a colite, é uma alimentação errada, particularmente com o consumo excessivo de lacticínios (em especial leite, iogurte, natas) e açúcar, assim como outros doces e adoçantes artificiais. Estimulantes, chocolate e especiarias podem também ser factores contribuintes importantes.

Para tratar e nalguns casos curar os sintomas da Doença de Crohn segundo os princípios macrobióticos é importante seguir a alimentação macrobiótica padrão (ver diagrama), tendo em atenção as seguintes considerações:



• Comer todos os dias a todas as refeições cereais integrais, particularmente arroz integral e millet.

• É muito importante que se consumam cereais em grão em vez de farinhas e deve-se evitar completamente o uso de farinhas no forno, como pão, bolachas, tostas, biscoitos, etc. (o pão e outras ?farinhas no forno? são muito mais difíceis de digerir e prejudicam imenso pessoas com problemas do foro intestinal).

• Para ajudar a absorção intestinal, creme de arroz e arroz cremoso com ameixa Umeboshi (ver receitas em livros de culinária macrobiótica) são receitas excelentes.

• Sopa de Miso deve ser comida diariamente para ajudar a digestão e a recriar uma boa flora intestinal; deve-se usar Miso de Soja (Hatcho Miso) ou de Cevada (Mugi Miso) não pasteurizados.

• Sopas de cereais, particularmente sopas à base de arroz integral ou de millet auxiliam a absorção intestinal e evitam que se perca muito peso.

• Na categoria dos vegetais devem-se evitar tomates, batatas, beringelas, espinafres, espargos. Todos os vegetais devem ser cozinhados até os sintomas melhorarem. A ideia de que pacientes com Crohn ou colite não devem comer ?vegetais de verdes? é errada; apesar de nos primeiros dias estes vegetais poderem criar algum desconforto, são importantes para um bom restabelecimento da parede intestinal.

Os métodos culinários para os vegetais devem ser variados e incluem:

• Saltear, cozinhar no vapor, cozer, estufar, nishime, entre outros.

• Algas como kombu, wakame, arame e nori devem ser usadas regularmente para ajudar os intestinos a recuperarem a sua elasticidade normal. Particularmente benéficos são condimentos produzidos a partir de algas, como shio kombu (alga kombu cozinhada com shoyu e água) e shio nori (alga nori cozinhada com shoyu e água).

• Condimentos como Gomásio (sementes de sésamo tostadas com sal), Tekka (raízes cozinhadas com Miso), e Umeboshi (pickles de ameixa) são também muito benéficos.

Um remédio por excelência para problemas inflamatórios intestinais é o Kuzu; Kuzu é uma raiz selvagem usada há séculos no Oriente com propriedades extraordinárias no que toca a problemas digestivos, particularmente diarreias.

No caso da Doença de Crohn pode tomar-se uma chávena de Kuzu com Umeboshi e Shoyu todos os dias durante 15 dias e depois cada dois dias durante mais 2 semanas (considere por favor que isto são recomendações gerais que não se aplicam exactamente da mesma forma a todos os casos).

Para preparar esta bebida – cujo verdadeiro nome é Ume-Sho-Kuzu – dilua uma colher de chá de kuzu num pouco de água fria; adicione um pouco mais de água (para perfazer uma chávena de kuzu) e leve ao lume, mexendo sempre até ficar transparente; no final adicione umas gotas de shoyu e ½ a 1 ameixa umeboshi.

Um aspecto final a considerar é que, em problemas deste tipo, se devem evitar completamente alimentos como leite de soja, iogurte de soja e outros tipos de ?lácteos não lácteos?, que tendem a criar mais irritação no tubo digestivo.

Espero que o leitor não fique assustado com tantos nomes estranhos e com umas recomendações alimentares que parecem ser dificílimas de seguir; na realidade, os pacientes de doença de Crohn sentem-se tão limitados nas suas escolhas alimentares que este tipo de recomendações lhes abre enormemente as possibilidades de escolha.

Importante mesmo é ler livros de culinária macrobiótica, se possível frequentar aulas, pedir ajuda a pessoas com mais experiência nestas lides.

E, mastigar muito, muito bem: mastigar muito bem os alimentos e tudo aquilo que se nos depara na vida é uma das técnicas mais importantes para absorver melhor e evitar indigestões.

5 comments:

Anonymous said...

ola... não sei se você do Brasil, mas saberia indicar um medico especilista que possa nos auxiliar nesse tratamento??? Tenho um primo que esta sofrendo muito com essa doença... ele esta um pouco desanimado... ver os irmãos levando uma vida normal e ele no entra e sai do hospital... agradeço a publicação.
Sara Santos
sara-s-santos@hotmail.com

Luz Cardoso said...

Olá Sara,
agradeço desde já o seu contacto.
Peço desculpa, mas sou portuguesa e não conheço nenhum especialista no Brasil.

Um abraço,
Luz Cardoso

Anonymous said...

Olá Sara,

Meu nome é Vitor, sou do Brasil, São Paulo.
Fiz macrobiótica, em 1972, por conta própria, estudando no livro do Prof. George Osawa, e me curei de duas infecções que o médico não curou. Ele tentou por 10 meses.
De lá para cá, mudei meu paladar, mas não continuei a fazer a Macrobiótica, de verdade. Mas minha alimentação era próxima.
Por isso, durante estes últimos 40 anos não adoeci, apenas algumas gripes.
No entanto, em 2011, estava com algum parasita intestinal. O médico me receitou uma dose grande de Metronidazol. Matou toda minha flora intestinal, sobrando apenas uma bactéria chamada clostridium difficile. É terrível. Tem gente que precisa cortar parte do cólon e jogar fora. Esta é a melhor expressão, melhor que o nome técnico. Algumas pessoas morrem.
Eu voltei para a Macrobiótica, por conta própria. Melhorava mas não curava. Tive que fazer dietas rígidas, só de arroz integral e gersal. Aí os sintomas sumiam. Quando eu voltava para uma Macrobiótica menos rígida, ela voltava, embora com sintomas pouco intensos. Então voltei para a dieta só de arroz integral com gersal. E os sintomas voltaram a sumir. Mas eu precisava de alguém que tivesse mais informações do que eu sobre o tratamento macrobiótico para esta bactéria. Pois não poderia ficar indefinidamente comendo só arroz integral e gersal.
Procurei um médico, aqui em São Paulo que trabalha com Macrobiótica. Ele me deu uma dieta não muito rígida. Eu fiz e a bactéria voltou. Ele insistiu para eu continuar e não deu certo. Ele estava confundindo os sintomas da bactéria com os sintomas de eliminação causados pela Macrobiótica. Percebi que, apesar da experiência dele com a Macrobiótica, como ele não conhecia as manhas desta bactéria, estava pensando que curava fácil.
E não é fácil de curá-la, pois ela faz parte de nossa flora, está no ambiente dela.
Resolvi aprender com minha própria experiência. Fiz 30 dias, 15 dias só de arroz integral com gersal e mais 15 incluindo também um pouco de outros cereais.
E entrei com probióticos recomendados para dificultar a proliferação da bactéria (tive que estudar e pesquisar sobre isso).
Deu certo e me curei. Creio que sou o primeiro no mundo a curar esta bactéria sem uso de drogas. E muitos que usam as drogas receitadas (aproximadamente 28%) voltam a ter a bactéria e podem perder parte do cólon (uma parte destes 28% perde).
OK, agora entra o que interessa para seu primo.
Após a cura da bactéria, devido às lesões que ela deixou no intestino, fiquei com uma inflamação intestinal. Sei que se fosse tratar com médicos alopatas, com uso de drogas (medicamentos), eu iria caminhar para ter Doença de Chron ou Síndrome do Intestino Irritável.
Então, entrei em outra maratona para me curar da inflamação intestinal.
Fiz uma Macrobiótica bem mais aberta, e começou a melhorar lentamente. Mas precisei aprender quais alimentos, mesmo macrobióticos, arranhavam meu intestino. Por exemplo, grão de bico com a casca que ele tem, pão de trigo integral, devido ao glúten etc. Então, fui tirando esses alimentos. Depois descobri que a quinoa, o amaranto e o trigo sarraceno têm saponinas. E que o uso frequente irrita o intestino.
Dessa forma, lutando incansavelmente, consegui a cura.
Finalizando, posso indicar um médico macrobiótico em São Paulo, e caso ele se trate com um médico ou orientador macrobiótico, e só neste caso, poderei passar minhas experiências. Pois só tenho o conhecimento e o direito legal de tratar e curar a mim mesmo.
meu email é voipnobrasil@yahoo.com.br

Luz Cardoso said...

Muito obrigado pelo seu testemunho.
Namastê!

Josemari said...

Vou dar um testemunho, pois penso que o conhecimento tem que ser partilhado, como segue.
Eu sou médica e estou lutando contra o Clostridium difficile, provavelmente de uma nova cepa altamente toxigenica. Devo ter adquirido a tal em um hospital no qual trabalhava, e o fato de ter tomado antibióticos para pneumonia e infecção urinária oportunizou a infecção por esta super- bactéria.
Já tentei Metronidazol( é a primeira escolha, conforme diretrizes das sociedades científicas), Vancomicina ( não existe para via oral no Brasil), associação do probiotico Sacharomyces boulardii.Fiz exclusão de leite de vaca e todos os seus derivados, reduzi muitíssimo o consumo de alimentos com glúten e percebi que quando libero um pouco a dieta, no tocante a vegetais e alimentos que compõem o cardápio normal a colite piora! Recentemente fiz uma experiência: tomei Enterogermina plus, que contém esporos da bactéria Bacillus clausii, No primeiro dia não aconteceu nada de diferente, mas no segundo dia, após 3 horas da ingestão comecei a me sentir estranhamente fatigada, conjuntamente a dores musculares e articulares, que se intensificaram nas horas seguintes; tive febre com calafrio à noite, num evidente quadro de bacteremia. O quadro melhorou após 24 horas, sem nenhuma intervenção especial, exceto a divina, através da intervenção de Nossa Senhora, pois pensei que se gosse ao hospital passaria a receber amplo esquema antimicrobiano, o qual devastaria ainda mais minha frágil flora benéfica.Havia vizualizado as consequências: piora da colite, debilidade orgânica, infecção por outra superbacteria, etc...é a saga das infecções hospitalates!!!
Aprendi amargamente com a experiência própria o quanto os antibióticos podem acabar com nossa flora intestinal benéfica!!!!
É chegada a hora do resgate com releitura de antigos conhecimentos, mas com a implementação de conhecimento cientifica para separar o que é verdade do que apenas ilusão e oportunidade de ganho de dinheiro fácil com as doenças dos inocentes.