Wednesday, 17 September 2008
Afrodite : contos, receitas e outros afrodisíacos
O apetite de Isabel Allende
Depois de se arrepender de todas as guloseimas que rejeitou por vaidade e as oportunidades de fazer amor que rechaçou por atitude puritana ou outros compromissos, a escritora chilena Isabel Allende tenta se redimir com o seu livro "Afrodite: contos, receitas e outros afrodisíacos"
A escritora, famosa por romances como "A casa dos espíritos” e "De amor e de sombras”, muito bem aceites pelo público, conta as coisas que aconteceram na sua vida de nómada com doses cavalares de fantasia. E assim, nas suas obras, desfilam avós etéreas que se comunicam com fantasmas, tias virando anjos e tios que decidem que é melhor ser faquir, dentre outras personagens, que seriam membros de sua família.
Mas o "Afrodite” é meio diferente. Depois de um longo período de luto pela morte de sua filha Paula, Isabel foi retirada do seu casulo de tristeza por uma série de sonhos estranhos, em que nadava em piscinas cheias de arroz con leche ou comia António Banderas bem temperado e enrolado numa tortilla mexicana. Decidiu-se então por um exorcismo diferente, nesse delicioso apanhado de contos, curiosidades e receitas, com a sua escrita agradável unindo apetite e sexo, segundo ela os responsáveis por propagar e preservar a espécie e provocar cantos e guerras.
Pesquisas primorosas sobre o tema resultaram em descrições de aromas e sabores de uma infinidade de alimentos que são, ou já foram, considerados responsáveis pelo aumento do desejo. Explicações minuciosas sobre o uso de ervas e um bom punhado de dicas (que podem ser divertidas e fáceis ou impraticáveis) transformam o livro num interessante manual para amantes da gastronomia e do erotismo.
Mesmo afirmando que o único afrodisíaco infalível é o amor, Isabel consegue que o livro sozinho acenda os desejos, uma bonita ponte entre gula e luxúria, os dois pecados mais típicos entre entre os sete (isso descontando a preguiça, que já é outra história). E no caso de a quantidade de informações confundir as cabeças por aí, deve-se aproveitar o conselho que a escritora recebeu da sua mãe, Dona Panchita, para resolver as emoções que o livro faz aflorar: melhor correr para um psiquiatra ou um cozinheiro. É provável que o segundo se mostre muito mais útil.
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