Friday 26 September 2008

Novos medicamentos para o tratamento do Cancro da Mama


Uma nova geração de substâncias promete sobrevivência prolongada após a doença. Combatem a reincidência do tumor e o aparecimento de novos no organismo.

Por Mariza Figueiredo

Há vida após o cancro. O número de pessoas a sobreviver ao diagnóstico desta doença nas suas mais variadas vertentes triplicou nos últimos 30 anos nos Estados Unidos. E dos 10 milhões de sobreviventes que hoje existem naquele país, 60 por cento são pessoas que venceram a batalha contra cancros da mama, próstata, cólon e aparelho ginecológico.

Entre os adultos diagnosticados com esta doença, estima-se que 64 por cento sobreviverá, pelo menos, cinco anos depois de constatada a sua existência, e a possibilidade de sobrevivência revela-se cada vez mais alargada. É o que indicam dados referidos pelo American Society of Clinical Oncology (ASCO), uma das mais respeitadas organizações internacionais no âmbito da Oncologia, que reúne cerca de 23 mil membros provenientes de mais de 100 países, e dita normas de procedimento no cuidado dos pacientes com cancro em todo o Mundo, além de desenvolver e apoiar investigação na área da prevenção, diagnóstico e tratamento deste mal. Esta realidade estende-se para além das fronteiras norte-americanas, apresentando valores semelhantes um pouco por todo o mundo ocidental.

Esta melhoria significativa nas expectativas de vida daqueles que, dia-a-dia, enfrentam a dura realidade do cancro ajuda a desmistificar a doença que, aos poucos, vai perdendo o seu cunho de fatalidade. Os especialistas mais entusiastas já conseguem prever, para um futuro não muito longínquo, a passagem do cancro para o grupo das doenças crónicas como a hipertensão ou a diabetes.

A prevenção, assim como os avanços tecnológicos – que permitem diagnósticos mais precisos, tratamentos cada vez menos agressivos, e que trazem ao mercado novas drogas –, são os grandes responsáveis por esta boa nova.
Mais novidades

O Encontro Anual da ASCO foi também palco para a apresentação de outros estudos. No campo do cancro da mama, estes foram alguns dos destaques:
Trastuzumab e quimioterapia – Cerca de um quarto dos cancros detectados na mama são positivos em HER2, gene envolvido no controle do crescimento das células, que leva a um crescimento acelerado do cancro e a um maior risco de disseminação pelo resto do organismo. Um estudo desenvolvido pelo North Central Cancer Treatment Group revelou que a combinação simultânea da quimioterapia com a substância trastuzumab, em vez da utilização sequencial destes tratamentos, mostrou ser mais eficaz na redução do risco de reincidência e do risco de morte.

Dieta pobre em gorduras – Um estudo levado a cabo junto de 2400 mulheres demonstrou que a alimentação pode ter um papel importante durante o tratamento padrão do cancro (cirurgia, radiação e quimioterapia ou terapia hormonal). Quando comparado com mulheres que mantiveram uma dieta normal, o grupo de mulheres pós-menopáusicas que se submeteram a uma dieta baixa em gorduras apresentou 24 por cento menos
risco de reincidência num período de cinco anos.
Os malefícios do álcool – De acordo com um estudo apresentado por investigadores do Dana-Farber Cancer Institute, do Brigham and Women’s Hospital e da Harvard School of Public Health, as mulheres pós-menopáusicas que consomem álcool, mesmo em quantidades reduzidas, podem estar sujeitas a um risco maior de virem a sofrer de cancro da mama.

Isto leva a uma nova atitude. Enquanto prevenção e investigação se mantêm na ordem do dia para que a expectativa de vida após um cancro seja cada vez maior, a sobrevivência e a qualidade de vida após a retirada do tumor ganham relevo entre as preocupações dos especialistas. Este foi um dos aspectos amplamente focados ao longo do Encontro Anual promovido pela ASCO, um impressionante evento que reuniu no primeiro semestre deste ano cerca de 25 mil especialistas de todo o Mundo e em que foram apresentados mais de três mil traba-lhos de investigação.

Entre as novidades apresentadas nesta ocasião, um dos destaques foi para um novo grupo de drogas denominado inibidores de aromatase, substâncias já conhecidas dos especialistas, mas que em estudos se têm revelado verdadeiramente eficazes na redução do risco de recorrência do cancro da mama e do surgimento de outros tumores no organismo das mulheres na pós-menopausa. A esperança de vida livre da doença torna-se, assim, uma realidade. Trata-se de um novo tipo de terapia hormonal que visa inibir os efeitos do estrogénio, um dos maiores responsáveis pelo desenvolvimento do cancro da mama. Cerca de 10 por cento das mulheres corre o risco de um dia vir a sofrer deste tipo de cancro da mama. E mais de dois terços destes cancros são do tipo estrogeno-sensitivos. São tumores que crescem “alimentados” pelo estrogénio que circula no organismo.

Após a menopausa, a produção desta hormona nos ovários é bastante reduzida. A sua presença no organismo da mulher deve-se então à transformação do androgénio em estrogénio, a qual é feita através de uma enzima denominado aromatase. Os inibidores de aromatase ligam-se a esta enzima e bloqueiam-na, impedindo a conversão de androgénio em estrogénio. Assim, este novo grupo de drogas foi apontado pela ASCO como sendo de grande interesse e indicado como terapia complementar para as mulheres pós-menopáusicas que foram diagnosticadas com cancro da mama na forma de tumores com receptores de estrogénio.

A terapia inicial envolve normalmente a cirurgia para remover o tumor e o tecido envolvente. Após a cirurgia, a terapia pode incluir radiação e/ou quimioterapia, seguida de um tratamento hormonal para os casos de tumores hormono-receptores, para evitar a reincidência do tumor ou o aparecimento de novos em outras partes do organismo. Durante décadas, esta terapia tem sido feita à base de uma substância denominada tamoxifen, com excelentes resultados. Os estudos que envolvem os inibidores de aromatase visam me-lhorar ainda mais os resultados nesta fase do tratamento.
Adeus passividade

De pacientes a doentes activas. Este é o desafio do futuro.
A atitude dos doentes face ao seu percurso desde o diagnóstico até ao controlo da sobrevivência tem ganho cada vez mais espaço em reuniões como a que foi promovida pela ASCO. São organizadas palestras específicas para associações de pacientes com o objectivo de informar e também de ouvir as suas principais preocupações.

Os pacientes são cada vez mais incentivados a defender os seus direitos, a controlar todas as etapas do seu tratamento e a revelar à equipa médica as suas necessidades ao longo de todo este percurso.

Os pacientes são desafiados a verem-se como parceiros dos seus especialistas em oncologia, em lugar de meros agentes passivos. O objectivo final é melhorar e humanizar os tratamentos, e promover uma melhor qualidade de vida.

O papel dos médicos como “defensores” (advocates) dos seus pacientes também tem sido estimulado. São desafiados a assegurar que os seus doentes, além do melhor tratamento possível, tenham acesso à informação, apoio e ajuda prática às suas necessidades.

Começa a haver também preocupação de proporcionar aos especialistas formação adequada para a relação com os doentes. É que ao longo das suas carreiras são levados por centenas ou mesmo milhares de vezes a dar notícias difíceis e lidar com temas sensíveis, o que nem todos estão preparados para fazer.
O letrozole é um destes inibidores de aromatase de terceira geração. Tem sido amplamente investigado pelo International Breast Cancer Study Group desde 1998, num estudo que envolveu oito mil mulheres a quem foram diagnosticados e tratados cancros da mama. De acordo com os resultados até agora apurados, o letrozole revelou ser mais eficaz que o tamoxifen, reduzindo o risco de reincidência em mais 19 por cento dos casos. E mesmo em relação às mulheres em que o risco de reincidência era maior – aquelas cujo cancro já tinha alastrado aos nódulos linfáticos por altura do diagnóstico ou que foram tratadas com quimioterapia –, a eficácia foi maior, com taxas de redução de risco de 29 e 30 por cento, respectivamente.

“Nesse estudo, não só investigámos qual a melhor droga – letrozole ou tamoxifen – mas também em como usá-las da melhor forma”, explicou à Máxima Beat Thürliman, um dos responsáveis pelo desenvolvimento do estudo. O objectivo era estabelecer qual a metodologia indicada: se a substituição do tamoxifen pelo letrozole ou a combinação de ambas as substâncias. Num artigo publicado recentemente no Journal of the National Cancer Institute, a ASCO indica a terapia com o letrozole após cinco anos de utilização do tamoxifen. “A maioria dos casos de reincidência entre as mulheres tratadas com o tamoxifen teve lugar ao fim de cinco anos de tratamento.
Mãos amigas

Em Portugal é possível contar com associações preparadas para orientar e também apoiar as mulheres com cancro da mama em todos os sentidos, desde o primeiro momento em que a doença é diagnosticada. Conheça algumas delas.


Associação Portuguesa de Apoio à Mulher com Cancro da Mama http://www.apamcm.com.pt/

A sua acção centra-se no suporte terapêutico, na intervenção social e jurídica, na formação aos profissionais e na actividade lúdica/ocupacional das mulheres com cancro da mama.

Tem como objectivo possibilitar uma melhor qualidade de vida ao doente, permitindo-lhe usufruir dos seus direitos e deveres, tendo em vista a sua reintegração social e familiar, bem como estimular a sua participação num conjunto de serviços e actividades.

Esta associação oferece acesso gratuito ao atendimento e acompanhamento com vários profissionais: psicólogos, sexólogos, fisioterapeutas, enfermeiros, médicos, juristas e advogados. Oferecem também actividades lúdicas e ocupacionais como reiki, yoga, chi kung, pintura, informática e aulas de inglês. E a partir de 30 de Outubro disponibiliza uma linha SOS gratuita: 800 102 122.

Associação Viva Mulher Viva
www.vivamulherviva.cjb.net


Nasceu na Consulta Multidisciplinar de Cirurgia da Mama do Hospital São José da necessidade de dar voz às necessidades das pacientes e sua família, de melhorar a comunicação entre pacientes, familiares e profissionais. Tem como principal objectivo o bem-estar e a qualidade de vida dos pacientes e seus familiares ao longo de todas as fases da doença e tratamento. O que faz estabelecendo a ligação das doentes com outras mulheres na mesma situação ou que tenham superado o cancro, com profissionais de diversas áreas de apoio, para assegurar apoio psicossocial ao longo de todo o processo de doença.

Liga Portuguesa Contra o Cancro

http://www.ligacontracancro.pt/

Esta associação cultural e de serviço social está voltada para todos os doentes oncológicos, oferecendo apoio específico para cada tipo de cancro. Promove a prevenção primária e secundária do cancro, o apoio social e a humanização da assistência ao doente oncológico e a formação e investigação em oncologia. Entre outras finalidades, destacam-se: divulgar informação sobre o cancro e a promoção da educação para a saúde, privilegiando a prevenção; contribuir para o apoio social e a humanização da assistência ao doente oncológico; a cooperação com instituições envolvidas na área da oncologia, nomeadamente com os Centros do Instituto Português de Oncologia de Francisco Gentil; o estabelecimento e manutenção de relações com Instituições congéneres, nacionais e estrangeiras.


O estudo provou que a utilização do letrozole nos cinco anos subsequentes mostrou ser capaz de reduzir por mais tempo o risco de reincidências.” E a preocupação agora é mesmo essa: depois de assegurar a retirada do cancro, garantir um período cada vez maior livre da doença. E que este período seja vivido com qualidade.

A utilização do letrozole, no entanto, não é indicada para pacientes com osteoporose moderada ou grave, assim como para alguns casos de mulheres com problemas cardiovasculares.

Fonte:
www.maxima.pt/1105/corpo/100.shtml

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